Em algum lugar, a muito tempo atrás, alguém pensou que talvez fosse uma boa ideia cortar alguns pedaços de tronco de árvore e usá-los para facilitar o transporte de coisas e pessoas. Hoje a roda - aprimorada, claro - é algo tão banal que até uma criança sabe dizer o que é. Apesar da banalidade, essa invenção mudou o curso da história humana. Não é a toa que hoje usamos o ditado “mão na roda” pra falar que algo é uma ajuda de grande valor.
Existem várias invenções humanas que, assim como a roda, foram concebidas a milênios atrás e aprimoradas com o tempo. Praticamente todas essas invenções hoje ocupam o mesmo lugar de banalidade que uma roda tem em nossas vidas, exceto uma: o dinheiro.
Muitas das responsabilidades de uma pessoa tem como objetivo fazer dinheiro: passamos grande parte de nossa juventude estudando para conseguir fazer dinheiro no futuro, trabalhamos e somos recompensados com dinheiro. Para alguns o dinheiro é apenas um meio, já para outros ele é o fim. O ponto é que dinheiro —gostando ou não— é o motivo pelo qual gastamos boa parte de nossa energia todos os dias.
Ou seja, você gasta boa parte do seu dia realizando tarefas que tem como fim obter dinheiro. Mas você já se perguntou o que é o dinheiro?
Aprendemos na escola que, antes do dinheiro ser inventado, as pessoas precisavam trocar os bens ou serviços que produziam diretamente pelos bens e serviços que gostariam de adquirir:
João produz sapatos e quer comprar maças, Maria quer comprar sapatos e produz maças, então João e Maria podem trocar os bens que produzem entre si. Isso é o escambo.
Agora imagine que Maria quer galinhas ao invés de sapatos. Restam duas alternativas para João: procurar por outro produtor de maças que aceite sapatos como pagamento, ou trocar seus sapatos por alguém que queira comprar sapatos e esteja vendendo galinhas. João sabe que seu amigo Carlos tem galinhas sobrando para trocar, mas Carlos não está interessado em sapatos, ele precisa de trigo. Agora João precisa trocar seu sapato por trigo, para conseguir trocar o trigo por galinhas e, finalmente, trocar as galinhas por maçãs. Quando toda a vila estiver calçada com os sapatos de João, é bem provável que ele passe fome.
O escambo é um processo ineficiente. João gasta tempo e energia procurando uma cadeia de trocas para que possa obter o que queria inicialmente. Se esse processo fosse melhorado, João poderia gastar esse tempo aprimorando a qualidade do seu sapato, ou descansando mais.
É da natureza humana buscar maneiras de aumentar a eficiência de processos, assim como aconteceu com a invenção da roda, era apenas uma questão de tempo e criatividade até alguma maneira mais eficiente de realizar trocas surgir.
Se todos os residentes da vila de João tiverem interesse na mesma coisa, essa coisa poderia ser utilizado como meio na troca de bens e serviços. Se objeto de interesse comum for ouro, por exemplo, João pode vender seus sapatos em troca de ouro e usar o ouro para pagar as maças que deseja comprar.
O dinheiro é o meio usado na troca de bens e serviços. Segundo a escola austríaca de economia, dinheiro é o bem mais “comerciável” de uma sociedade, pois sua demanda é infinita. Todos querem ter mais dinheiro, sempre. Por causa de sua demanda infinita, podemos dizer que dinheiro é um maneira mais eficiente de trocar seu trabalho pelo trabalho de outra pessoa.
Ou seja, o dinheiro é a invenção que resolveu o problema da baixa eficiência das trocas.
Outra propriedade interessante do dinheiro, é que ele é uma maneira de comunicar o valor do trabalho de uma pessoa para todos os outros membros da sociedade:
No escambo, João precisa usar uma unidade para cada pessoa que quer adquirir seus sapatos. Se João for trocar por maças, precisa medir o valor dos seus sapatos em maças, se for trocar por trigo, precisa medir o valor em trigo, e assim por diante. Com o dinheiro, João pode informar para todos os moradores da vila o valor de seus sapatos em uma unidade padrão para todos.
Assim como a roda, o dinheiro também surgiu em diferentes sociedades que nunca tiveram contato entre si. Por isso, a forma que o dinheiro se manifestou fisicamente entre essas sociedades foi diferente. Algumas sociedades africanas usavam conchas, os habitantes das ilhas Yap usavam pedras de 4 toneladas, chamadas de Rai. O império Romano usou o ouro, o Mogol (atual Índia) a prata…
A maneira como o dinheiro se manifesta fisicamente é chamada de moeda. As conchas, as rochas Rai, o ouro e a prata são manifestações físicas diferentes do dinheiro, portanto, cada uma delas é uma moeda diferente.
Naturalmente, moedas diferentes competem no mercado, para se tornarem o bem mais comerciável de uma sociedade. O Bitcoin é mais do que uma moeda, competindo com outras moedas pelo status de bem mais comerciável. Por isso, se queremos entender o Bitcoin, devemos começar entendendo o dinheiro.
O próximo passo para entender o Bitcoin é entender o que torna algumas moedas melhores que outras, mas esse papo vai ficar para um próximo post.
Salve Lorenzo, eu posso narrar e postar esse texto?