Que Porra é Web5? Parte 1: Web2 e Web3
Um mergulho na proposta inusitada de Jack Dorsey com a TBD
Na última sexta-feira, dia 11/06, a subsidiária de nome misterioso da Blocks, TBD, anunciou a Web5: “Uma plataforma web extra descentralizada”. Como ainda há uma grande confusão sobre do que se trata a Web3, antes de tentar explicar do que se trata a Web5, vamos ver primeiro como a internet funciona hoje, quais são seus problemas e como a Web3 decidiu resolvê-los.
A Web Hoje
A web hoje funciona em um modelo chamado “cliente-servidor”. Você pode levar esse termo literalmente ao pé da letra. Vamos usar o twitter como exemplo.
De um lado há um cliente que realiza pedidos ao servidor:
“Me mostre uma lista de tweets das pessoas que eu sigo”;
“Poste esse meu novo tweet”;
“As pessoas estão me cancelando por causa do meu último tweet! Servidor por favor exclua-o”;
Esses “pedidos” são entregues ao servidor, um computador controlado pelo Twitter em um armazém em algum lugar do mundo. Ele recebe esses pedidos e serve o cliente:
“Aqui estão os tweets mais recentes das pessoas que você segue”;
"Polêmico esse tweet hein, vou salva-lo em meu banco de dados para ele ficar disponível para os outros usuários poderem ler”;
"Não aguentou a pressão, né. Tá bom, eu deleto esse tweet do meu banco de dados para você”;
Em resumo isso significa que seus dados estão salvos no computador de um terceiro, no caso desse exemplo, os seus dados estão salvos nos computadores do Twitter: Seu usuário, sua senha, seus tweets, suas listas, sua bio…
E isso vale para praticamente todos os aplicativos que você usa na web: suas playlists do Spotify estão salvas nos servidores do Spotify. Sua lista de desejos da Amazon está salva nos servidores da Amazon. E sabe aquele serviço que você usa para armazenar dados na “nuvem”? Acontece que a “nuvem” também é só um servidor em um armazém em algum lugar do mundo, que também é controlado por outra pessoa.
Do ponto de vista do usuário, talvez o maior inconveniente deste modelo seja guardar um monte de contas para os diferentes serviços que ele usa na internet. Isso acaba incentivando péssimas práticas de segurança. Ou vai dizer que você nunca usou a mesma senha em dois serviços diferentes?
Outro inconveniente é a falta de “interoperabilidade” entre diferentes serviços: se você decidir migrar do Spotify para o Deezer, você terá que recriar todas as suas playlists manualmente no novo aplicativo.
Já para os desenvolvedores desses serviços, o inconveniente é ter que investir tempo não apenas em fornecer uma boa experiência para o usuário, mas também proteger os dados desses usuários, tanto de malfeitores quanto de defeitos nos servidores. Já imaginou se um belo dia você entra no instagram e descobre que todas as suas fotos e vídeos salvos lá se perderam ou se um hacker acessa seus nudes salvos na “nuvem”? As gigantes das mídias sociais gastam bilhões para manter essa infraestrutura disponível e segura 24 horas por dia, 7 dias por semana e 365 dias por ano.
Web3: Uma solução?
Os criadores da Web3 conseguiram identificar corretamente esses inconvenientes e tentaram uma nova abordagem: ao invés de cada serviço ter seu próprio servidor e banco de dados para armazenar dados de seus usuários, são usados bancos de dados públicos mantidos por terceiros. Esses bancos de dados públicos são conhecidos como “blockchains".
Agora, ao invés do cliente mandar pedidos para o servidor, o cliente manda pedidos para um banco de dados públicos para ler e escrever as informações que ele precisa. Se você já usou uma DEX ou alguma plataforma de DeFi você provavelmente notou as vantagens:
Você tem uma única credencial para acessar os diferentes serviços;
Existe interoperabilidade entre as aplicações. Os dados escritos por uma aplicação podem ser lidos por outra aplicação, afinal o banco de dados é público;
Desenvolvedores dos serviços podem focar na experiência do usuário, já que toda a infraestrutura para manter esses dados é fornecida pela “blockchain”;
Aos olhos de um leigo, essa parece ser uma ótima solução para o problema, mas olhando um pouco mais de perto conseguimos ver algumas falhas nesse design.
A mais óbvia delas é que a blockchain é um banco de dados público. Tudo que já foi escrito nesse banco de dados está disponível para quem quiser ler. Adeus, privacidade.
Em segundo lugar, adicionar dados neste banco de dados público não sai de graça. Isso significa que toda a vez que você quiser escrever nesse banco de dados, você terá que pagar uma taxa por esse serviço. Em momentos de alta demanda essa taxa pode ser absurdamente grande.
Por fim, para manter esses bancos de dados públicos seguros, eles são projetados de maneira que apenas seja possível escrever neles. Não é possível deletar nada. Isso significa que um banco de dados público nunca vai diminuir de tamanho, apenas aumentar. Se não forem feitas restrições ao que pode ser escrito nele, ficará muito caro muito rápido para manter esse banco de dados, afinal bytes de armazenamento custam dólares.
Essa é a falha mais embaraçosa da Web3. Como precisam ser feitas limitações no que pode ser escrito, não é possível guardar imagens e vídeos nele. A “arte” de um NFT, por exemplo, não fica salva no banco de dados público. O que fica salvo é um link para um servidor que hospeda a imagem.
Ou seja, para resolver esse problema, a web3 deu um 360 com a sua solução. O armazenamento dos dados (que importam) continuam sendo feitos por terceiros em seus servidores.
Parabéns web3, por ter identificado corretamente os problemas. Mas não precisava ter dado esse 360 e parado exatamente no lugar onde a web2 nos deixou.